
Entoo a música devagar, como se ela se agarrasse à minha língua.
Solto-a lentamente, com uma fluidez viscosa,
Sinto-a despegar-se de mim e choro a sua perda.
Canto a perda que há-de vir, canto a perda do agora,
Canto a alegria de mim na tristeza de ser.
Canto a sequência do tempo,
Canto tudo o que vejo e não consigo sentir,
Canto tudo o que sinto e não consigo exprimir.
Grito a minha dor
Grito a tua dor
Grito a dor da terra cuja pulsação sinto
Aqui deitada, desamparada, iluminada, no meio do chão.
Grito Grito Grito
Penso…Eu não sou…
Não, nunca mais, quem julgava
Nem quem julgavam que fosse…
Vazia…
Cada vez mais…
E música que se solta de mim,
Pedaços de mim…Eu
Lalaralalalarala
Cada vez mais alto, cada vez mais forte, cada vez mais eu…
Ouçam a minha música,
Ouçam-me…simplesmente
No cinzento do dia acordei.
No cinzento de mim me encontrei.
Ao cinza anuir irei.
Observem o cinzento de mim…Levem-me um pouco de cor.