Friday, May 23, 2008

Tempo


Sinto um temporal à minha volta.
Os meus cabelos, revoltos no ar, movem-se como se fugindo de algo. Sinto o poder do vento, a sua força em cheio no meu corpo. Como que por oposição às arvores, vergando-se até ao limite, permaneço parada, estática no centro do temporal.

Fecho os olhos e em vez do barulho das folhas ou do som do vento, ouço apenas os clamores dentro de mim...Será que mais ninguém os ouve?

A paisagem modifica-se de repente. Vejo negras nuvens avançando determinadas e o cheiro a chuva e a electricidade paira no ar.

Tudo se encontra em suspenso, procurando onde avançar no Tempo.

Sunday, May 18, 2008

Universo


Tenho um quadrado negro à minha frente. Um negrume intenso de um vazio imenso e eu à sua frente. Olho-o sem entender. Olho-o sem me mover. Não consigo ver os seus limites, tal é a sua dimensão, mas sei (e sei-o interiormente) que é um quadrado suspenso à minha frente.

No mais primordial de mim, conheço esse vazio. Sei que é ele a minha origem. Sei que é ele o meu fim.

Afloro a sua superfície, toco-a, mas não a sinto e parte de mim desaparece. Parte de mim invisível e eu frente a um quadrado negro. Sem limites. Sem fronteiras. Uma janela infinita perante mim. Mas dando para onde? E se é uma janela donde avisto o negrume, onde me encontro eu?

Suspensa, parada, observo o todo, vendo apenas a densidade escura diante de mim. Ínfimos pontos de luz preenchem infinitamente o negrume frio que já foi quente depois de ser inexistente.

Tenho um quadrado infinito à minha frente, quase como se dentro de mim.

Afinal, quem me garante que o Universo não parece ser infinito apenas quando considerado do meu referencial e relativamente à minha escala de tempo?