Friday, November 23, 2007

Frio/ Neve/ Gelo


Frio...Frio...Tenho frio...E as minhas pernas continuam a caminhar, as botas enterrando-se fundo na neve. Branco...É tudo o que vislumbro à minha volta.Tranquilo...puro...como uma superfície única, lisa, compacta. Eu caminhando, avançando e a paisagem permanecendo inalterada: os mesmos passos fundos atrás de mim, os mesmos picos de gelo ao longe brilhando, o mesmo momento uma e outra vez...Um passo.Um passo.Um passo.
Pequenas nuvens de vapor se formam e elevam à minha frente. Tento respirar com calma, mas não demasiado profundo...Essas nuvens são calor e vida que preco a cada respiração.

Estou insensível a tudo, menos ao frio que penetra por todas as frestas da minha roupa. É aquele vento forte que se levanta, sem obstáculos que o impeçam de correr pela superfície plana e imaculada do norte.

Continuo a mover-me, sempre, sem destino, seguindo apenas uma linha recta, pois não tenho forças para mudar de direcção...Sigo, na esperança de que algum dos meus companheiros me onsiga encontrar. Pelo menos dois dias passaram desde a tempestade de neve em que me perdi deles; com certeza que teriam pedido ajuda e agora me procuravam...A menos que como eu se tivessem desviado do acampamento, cegos pela neve que nos fustigava o rosto e o medo do frio e agora caminhassem, como eu, sem rumo, tentando simplesmente sobreviver, sobrevivendo na esperança de serem salvos por alguém...talvez por mim...

Saturday, November 3, 2007

Transcendente


Saltei um dia da janela só para ver como seria...

Apoiada na janela apreciei a perspectiva. Era como se estivesse suspensa no ar, pairando sobre a azáfama, flutuando entre pensamentos, suspensa como uma folha prestes a cair. E entretanto o ar batia-me na cara, fazendo remoinhos no meu cabelo, chamando-me, incitando-me a ele me juntar. Era como se dissesse "vem, vamos voar...temos nuvens para mover, chuvas e trovoadas para provocar, desertos para percorrer, praias para esvaziar, roupas para arrancar, letras, páginas, livros, jornais para folhear, bolas de sabão para soprar e subir, subir, subir até desaparecerem; temos um mundo inteiro para explorar e tu pouco tempo para o descobrir..."
Mas eu hesitava, oservando as pessoas que passavam, tão concentradas nos seus pequenos afazeres, deveres ou pecados...Tantas vidas, tantas...Uma tão grande variadade de formas de viver passava por mim que quase me senti explodir com a imensidão de possibilidades. E todas as pequenas luzes que se começavam a acender apenas significavam mais, preocupadas com o jantar, com o projecto por acabar, com a culpa sabe-se lá de que segredos, com os olhos ou os lábios, sim definitivamente os lábios, da recém descoberta alma-gémea, com as saudades da recentemente perdida...
E eu passivamente observando, analisando e pensando tudo aquilo, ou talvez não tão passivamente, porque de repente comecei a preocupar-me com teste do dia seguinte, com a falta que me faziam os seus olhos, com as milhentas pequenas coisas que nos preenchem o quotidiano...
Foi quando caí, sem amparo, livremente condicionada a um futuro definitivo. Será que caía como todos os outros num poço de preocupações ou que contrariamente a eles, caía para não me preocupar?

A dor da queda foi o momento do meu acordar, tranpirando, pensando naquele sonho surrealmente real e transcendente...

Aconchego


Imagens...Palavras...É o que me preenche o pensamento ultimamente, como uma espécie de obcessão.

Quando passeio ou em quase tudo o que faço, facilmente me distraio por um reflexo numa superfície inesperada, por um ângulo menos usual de perspectiva; por um raio de luz num rosto, nuns olhos, numa folha, numa flor, na calçada, na fachada de um edifício, numa poça de água; pelo voo errático e belo de uma borboleta; por uma expressão particular num dos vários rostos que encontro por acaso no metro, rua, faculdade; pelo sorriso reconfortante na cara de um amigo; pela graciosidade dos movimentos de alguém enquanto conta uma história.

E tudo isso, tudo, eu quero fotografar nesse instante ou para sempre gravar na minha memória e transmitir depois a outros por palavras. Pois parecem sempre, tal como são, irrepetíveis e incrivelmente belos...

É talvez por isso que procuro incessantemente palavras...
É talvez nisso que encontro o meu aconchego e a minha forma de amar...