Thursday, February 14, 2008

Anuir

Lalalrala lalarala lalarala

Entoo a música devagar, como se ela se agarrasse à minha língua.

Solto-a lentamente, com uma fluidez viscosa,
Sinto-a despegar-se de mim e choro a sua perda.

Canto a perda que há-de vir, canto a perda do agora,
Canto a alegria de mim na tristeza de ser.
Canto a sequência do tempo,
Canto tudo o que vejo e não consigo sentir,
Canto tudo o que sinto e não consigo exprimir.

Grito a minha dor
Grito a tua dor

Grito a dor da terra cuja pulsação sinto
Aqui deitada, desamparada, iluminada, no meio do chão.

Grito Grito Grito

Penso…Eu não sou…
Não, nunca mais, quem julgava
Nem quem julgavam que fosse…

Vazia…
Cada vez mais…

E música que se solta de mim,
Pedaços de mim…Eu

Lalaralalalarala

Cada vez mais alto, cada vez mais forte, cada vez mais eu…

Ouçam a minha música,
Ouçam-me…simplesmente

No cinzento do dia acordei.
No cinzento de mim me encontrei.
Ao cinza anuir irei.

Observem o cinzento de mim…Levem-me um pouco de cor.

Wednesday, February 6, 2008

Justiça


Sento-me e escuto. Nada; ou melhor, nada de novo: sussurro de folhas, carros que passam, vozes, passos no corredor, música. Tento de novo, concentrando-me unicamente naquilo que não posso ouvir.

...Vazio...

Se conseguisse ouvir, aqui sentada, todos os gritos, súplicas e gemidos de sofrimento sentidos no mundo neste preciso momento, acho que ficava louca. Seria invadida por um desespero tal que julgaria fútil mais um breve inspirar sequer. Como pode a rotina que preenche os nossos dias fazer sentido após tal avassalador momento?
Talvez seja por isso que tudo o que ouço é o vazio. O Sofrimento humano como uma palavra censurada na música que é o Tempo. Um silêncio que torna esta emoção ainda mais óbvia, mas que nos permite simultaneamente fingir o seu desconhecimento.
É graças a este vazio que muitos de nós vivemos o nosso quotidiano sem considerar nada para além do nosso pequeno "mundo". É devido a este vazio de Justiça que muitos não acreditam em Deus. É na tentativa de preencher este vácuo que alguns gritam mais alto por aqueles que não ouvem.
É procurando fechar este orifício na nossa consciência que alguns se levantam para agir.

Aqui sentada, tento escutar.

Como não encontrando nada para além dos clamores dentro de mim, levanto-me e ligo o rádio...