- "Desculpe...!"
Susana olhava distraída o céu enquanto andava.
- "Desculpe...será que..."
Uma mão no ombro fê-la virar-se. À sua frente um rapaz moreno, alto, sensivelmente da sua idade, olhava-a através de uns olhos verdes, curioso.
- "Sim...?" - inquiriu Susana. Havia algo nele de familiar...Talvez a expressão, a mesma que nela própria se constatava quando concentrada, observava a singular beleza do mundo para a captar nas suas fotografias.
- "Será que a posso desenhar?...Demoraria só um instante.
- "Mas...?"
- "Por favor...?"
- "O.K." - Susana sentia-se intrigada - "Já agora, chamo-me Susana." - Sorriu.
- "Luís."
Um sorriso iluminou-lhe a cara. Como era belo quando sorria...
- "Podemos sentar-nos naqueles degraus."
Enquanto Luís desenhava, Susana continuou a observá-lo. A expressão de concentração era agora bem marcada, mas de vez em quando quebrada por uma expressão de surpresa que parecia deliciá-lo.
- "Sabe...parece que a conheço...os seus traços, linhas, feições. É como se já a tivesse desenhado ou com as mão delineado os seus contornos..."
Ambos coraram.
Quando acabou de desenhar, quedou-se a olhá-la. Mas era um olhar que não a incomodava, pois era como se já fizesse parte da sua vida. Uma extensão esverdeada do seu próprio olhar. Um verde observar do mundo.
Olhávam-se como se já se conhecessem. Olhavam-se para se conhecerem...
Um vento frio começou a soprar.
- "Por um momento senti que o conhecia, Luís. Os seus sentimentos, os seus pensamentos, os seus segredos..."
- "Sim, por um momento, eu também..."
A mesma expressão espelhou-se nas suas caras.
- "Começa a ficar frio. E se fossemos tomar um café?"