Saturday, November 3, 2007

Transcendente


Saltei um dia da janela só para ver como seria...

Apoiada na janela apreciei a perspectiva. Era como se estivesse suspensa no ar, pairando sobre a azáfama, flutuando entre pensamentos, suspensa como uma folha prestes a cair. E entretanto o ar batia-me na cara, fazendo remoinhos no meu cabelo, chamando-me, incitando-me a ele me juntar. Era como se dissesse "vem, vamos voar...temos nuvens para mover, chuvas e trovoadas para provocar, desertos para percorrer, praias para esvaziar, roupas para arrancar, letras, páginas, livros, jornais para folhear, bolas de sabão para soprar e subir, subir, subir até desaparecerem; temos um mundo inteiro para explorar e tu pouco tempo para o descobrir..."
Mas eu hesitava, oservando as pessoas que passavam, tão concentradas nos seus pequenos afazeres, deveres ou pecados...Tantas vidas, tantas...Uma tão grande variadade de formas de viver passava por mim que quase me senti explodir com a imensidão de possibilidades. E todas as pequenas luzes que se começavam a acender apenas significavam mais, preocupadas com o jantar, com o projecto por acabar, com a culpa sabe-se lá de que segredos, com os olhos ou os lábios, sim definitivamente os lábios, da recém descoberta alma-gémea, com as saudades da recentemente perdida...
E eu passivamente observando, analisando e pensando tudo aquilo, ou talvez não tão passivamente, porque de repente comecei a preocupar-me com teste do dia seguinte, com a falta que me faziam os seus olhos, com as milhentas pequenas coisas que nos preenchem o quotidiano...
Foi quando caí, sem amparo, livremente condicionada a um futuro definitivo. Será que caía como todos os outros num poço de preocupações ou que contrariamente a eles, caía para não me preocupar?

A dor da queda foi o momento do meu acordar, tranpirando, pensando naquele sonho surrealmente real e transcendente...

5 comments:

Anonymous said...

Dois textos única e simplesmente divinais. Não pares, Carol =)

Fred said...

Tanto tu como a Meggy têm textos trancendentais!

Anonymous said...

transcendente! :)

Meggy said...

Pensamos que foi um sonho... e na verdd foi mesmo, uma dezena de realidds alheias q passam por nós a correr e fazem-nos pensar... somos assim... e se fosse eu ali...

A vida além da nossa janela é algo que nos transcende, que transporta a outras realidds... e no entanto sabendo que isso seria optimo... pensamos, hesitamos e temos medo de saltar e juntarmo-nos ao vento...

Anonymous said...

muito bom mesmo...